Convidado: Caíque Fellows e a paixão por fotografia
Meu pai, o velho Ernesto Fellows (“Ernie” como a gente chamava), trabalhava na indústria ferroviária, construção de trens. Mas tinha um vício incorrigível: a fotografia. Tenho até hoje na lembrança, a imagem dele com o inseparável fotômetro (daqueles dos anos 50), no bolso da camisa e preso por um cadarço preto, preso no pescoço.
E a boa e velha Rolleiflex 6×6 debaixo do braço.
A gente tinha um laboratório fotográfico num quartinho de serviços, na nossa casa na Rua João Pessoa, em Santa Rosa, onde os babacas agora resolveram vender para outros babacas como Jardim Icaraí. Vai entender… E eu cresci entre reveladores, fixadores, borax, bandejas, ampliadores, camisas manchadas e broncas da minha mãe pelas camisas manchadas. Como foi bom…
Além de ter sido o alvo de centenas de fotografias (junto com a minha mãe, que era a modelo principal, claro) experimentais ou não. Todas que eu consegui salvar depois de tantos anos, estão super bem guardadas comigo!
Em 1961, fui estudar no Centro Educacional de Niterói e ganhei mais um irmão: Paulinho Muniz, outro louco pelo assunto. Convencemos o irmão dele a “nos emprestar” (Paulinho, você é terrível!) uns trocados e fomos buscar num brechó perto da Rodoviária de Niterói, o “Formigão”, um ampliador de enésima mão (consta que um dos donos foi Caramuru em pessoa!), que nós demos um trato, Paulinho desalojou a empregada da casa dele do quarto e fez dali um laboratório.
E eu embarquei junto.
Mas a gente tinha outro vício: corridas de automóvel! E lá íamos nós (eu fugia de casa. nem dava tempo de dizer onde eu ia) pro autódromo do Rio de Janeiro – o primeiro, dos anos sessenta – nos domingos ver e fotografar corridas. Com o que a gente tinha à mão, né? Eu levava uma Kodak Instamatic, que tinha o filme da mesma largura de um 35 mm. Paulinho já tinha umas câmeras mais bacanas… Mas a gente ia, pulava o muro do autódromo, ou a grana não ia dar prá voltar, via as corridas, fazia um monte de fotos e íamos direto pro Gragoatá, capital mundial da fotografia, revelar e copiar as fotos. Curtimos muito aquelas aventuras! Curtimos tanto que o meu amigo virou o baita fotógrafo que é e eu segui na arquitetura.
Mas o mundo gira e a Lusitana roda….
E a fotografia nunca saiu de mim. Arrumei uma Pentax que eu comprei do meu amigão e arquiteto também Carlos Alberto “Panela”, quando a gente fez vários projetos na Região dos Lagos, troquei por uma Rollei SL 35 que o meu cunhado trouxe da Alemanha (fantástica!), montei um laboratório em casa e em seguida troquei a Rollei por uma pequena jóia: uma Leica M3! Que maravilha!
Aí botei a perna no mundo! Tenho até hoje muita coisa que fiz com aquela jóia.
Mas infelizmente, alguém que sabia o que estava fazendo, roubou a minha Leica de dentro do meu escritório. Não levou mais nada, só a minha jóia. Triste. Mas não desanimei! Arrumei uma Minolta super legal, e fui em frente. E cada vez que eu trocava de câmera, Christina posava incontáveis vezes até eu acertar a mão….
No meu trabalho de arquiteto, a fotografia sempre foi útil e muito! Para ilustrar um levantamento, para registrar a execução de uma obra, para registrar o que eu fiz, para registrar denúncias contra o ambiente (isso prá mim é sagrado!) e por aí a fora. Aí a minha eterna namorada Christina ganhou uma Sony digital. Caraio, mermão! Fiquei louco! Achei que tinham reinventado a roda!
Tomei a câmera dela. Virou minha. Pronto.
E continuei sentando o dedo por aí, sempre sem nunca usar a regulagem automática. Meu pai me matava se me visse usar uma câmera no automático! Ele usou MUITO uma Nikon F com o Photomic quebrado que eu tive, sem nunca pensar mais do que três segundos. E o velho era infalível!
Grande Ernie.
Hoje eu uso uma Canon G11 (dica do meu irmão mais velho Chico Nascimento) e uma Nikon D3100 (dica do meu irmão de fé – e de sangue, igual a filme de índio, bicho! Verdade!) Paulinho Muniz. Eu adoro fotografia. Certamente se a arquitetura não estivesse tão agarrada em mim, eu tinha fugido da faculdade prá ser fotógrafo igual ao Paulinho…. hahahahahahaha….
Ou igual a você, meu grande amigo Davy!
Um grande abraço prá você e eu beijo estalado nessa testa cheia de cabelos brancos. Que nem os meus….